Passados 10 meses do início da epidemia de COVID-19 na China (posteriormente, pandemia), temos a oportunidade de conferir, na 44ª Mostra Internacional de Cinema de SP, o longa-metragem “Coronation” de Ai Weiwei que mostra o alastramento da doença a partir de seu epicentro- a cidade de Wuhan- e as duras restrições do governo chinês com o intuito de conter a virose.
Ainda que tenhamos sido bombardeados pela imprensa mundial com informações sobre essa pandemia ao longo do ano, vale a pena conferir “Coronation” pelas imagens raras e impactantes captadas por 14 colaboradores voluntários no projeto dirigido à distância por Weiwei, que esteve na Europa durante todo o processo de filmagens.
Há cenas do funcionamento de uma UTI com pacientes graves; da cidade de Wuhan esvaziada, em pleno lockdown; da comovente entrega das cinzas das vítimas aos seus parentes, além de depoimentos de alguns anônimos confinados como o operário obrigado a ficar de quarentena numa garagem; parentes que tiveram perdas familiares e acusam o Estado de negligência; a intrigante senhora, membro do Partido Comunista e seguidora de Mao.
A partir desse documentário expositivo temos um retrato das contradições de um dos países mais poderosos do mundo que ainda luta contra o inimigo invisível. O governo chinês que mobilizou parte da população e investiu bilhões para combater o coronavírus após conhecer sua letalidade, também mostrou-se displicente ao manter em sigilo, por quase um mês, o alastramento da virose. Tudo isso para blindar as fragilidades do seu sistema de saúde.
No momento atual, onde uma segunda onda da pandemia começa a apontar em alguns países europeus e o Brasil ainda não se livrou da primeira, um filme como “Coronation” confirma que contra um inimigo invisível e sem armas 100% eficazes, o mínimo que se deve fazer é unir forças e seguir os protocolos de segurança. Acredite nisso ou não.

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